23 abril, 2007

Passadeiras - Portugal, Holanda, Eslovénia

É engraçado ver como as diferentes culturas afectam as atitudes dos condutores e peões nas estradas.

Na capital da Eslovénia, Ljubljana, há pistas para ciclistas nos passeios da vasta maioria das ruas principais. Os ciclistas têm uma prioridade semelhante à dos peões, ou seja, têm prioridade sobre os carros quando atravessam passadeiras sem semáforos e têm semáforos próprios para eles nas passadeiras com semáforos para carros e peões. O que me meteu impressão foi a atitude com que os ciclistas andavam. Eles simplesemente não olhavam antes de atravessar a passadeira! Como sabem que têm prioridade, metem-se à louca e os condutores que travem! Do que vi, isto não costuma correr mal, porque não vi atropelamentos (se bem que vi uma travagem brusca uma vez, dum carro que não viu o ciclista com antecedência).

Em Eindhoven, na Holanda, também há as tais pistas para ciclistas, mas não é disso que vou falar agora. Estava eu prestes a atravessar uma rua numa passadeira, quando vi que vinha um carro. Aí, decidi esperar um pouco, como faria por cá, para confirmar que o gajo me estava a ver e que ia abrandar para eu passar. O gajo realmente abrandou e até parou para nós passarmos, mas não sem gesticular e vociferar, irritado, a mandar-nos atravessar. Eu percebi a mensagem, mesmo não sabendo nada de holandês: "Ó palhaço, não vês que estás numa passadeira, estás à espera de quê?". E dei-lhe razão. Não voltei a fazer este erro na Holanda.

Em Portugal, não é a primeira vez que já comecei a atravessar a passadeira e um carro decide não esperar e continua a andar, pouco preocupado comigo. É aliás comum vermos condutores que não param quando há peões prestes a atravessar a passadeira, quando o código o obriga. Por outro lado, não são só os condutores os pecadores, pois estamos habituados a peões que atravessam em qualquer lado, venham carros ou não.

É uma atitude muito diferente da que se vive lá fora. Como corrigir estas atitudes egoístas por parte de peões e condutores, que para além de desrespeitarem o Código da Estrada, nos fazem parecer gorilas com carros?

Em relação aos peões, já assustei muitos, passando-lhes rasantes com o carro, ou dando-lhes umas buzinadelas, mas pelos vistos, estou errado. Diz o livro de código da ACP:

"É necessário ser tolerante quando os peões circulam incorrectamente na faixa de rodagem, sendo condenável qualquer atitude agressiva para os intimidar ou assustar."

Raios, então como é que se faz? Obrigar a tirar carta de peão, integrada na disciplina de Estudo do Meio Físico e Social, do 1º Ciclo do Ensino Básico?

Em relação aos condutores, já experimentei mandar um pontapé num carro que não parou na minha passadeira, mas o gajo ficou zangado e encostou a seguir para protestar (valeu ele ser um e nós sermos mais de dez, por isso ele ficou perto do carro).

Que soluções?

4 comentários:

Anónimo disse...

Nada tenho a acrescer à tua análise, por isso vou limitar a transmitir a minha experiência.
Quado vejo algum peão a principiar uma infracção eu espero por ele para fazer bem junto dele o accionamento do ABS, isto é, eu assustei-o com o barulho, contudo é certo não me irem punir por ter salvo um peão. Quem não tem ABS pode fazer o mesmo porque a derrapagem faz algum barulho, precisam é de mais espaço para travar.
Quando sou peão simulo o lançamento de algo ou então finjo que me vou mandar para a frente do carro. A verdade é que eles quase nunca param, contudo quase todos apanham um susto de morte. Esta situação ocorro-me quase diariamente na passadeira em frente a minha casa, e eles geralmente param quando eu levo a caixa da guitarra, digamos que os intimida..

Anónimo disse...

Curiosamente na revista do ACP nº675 vem um artigo intitulado: PEÃO MULTADO NA PASSADEIRA,página 62, que passo a transcrever.

«A questão da limitação da prioridade na travessia das passadeiras pelos peões, referida na secção Quid Juris/ ParecerLegal da nossa edição de Outubro de 2006 tem vindo a siscitar algumas duvidas junto dos nossos associados. A carta que a seguir transcrevemos serve exclusivamente para demonstrar que a forma como alguns peões atravessam, assumindo uma prioridade de passagem que muitas vezes não têm, pode ser penalizado pelos agentes da lei.

Tendo lido na vossa revista de Fevereiro de 2007, na secção "cartas dos sócios" a opinião do Sr. Nuno Duque referente ao descuido pr parte dos peões na travessia das passadeiras, também penso que estes devem ser sensibilizados para a abordagem que fazem às passadeiras, e um exemplo recente, ocorrido em Beja, vem confirmar essa necessidade.
Um peão foi multado por, ao chegar à passadeira, não se ter preocupado muito com o trânsito automóvel que se aproximava, atravessando de forma descuidada e obrigando à travagem brusca dum automóvel, que por pouco não o atingiu e não sofreu abalroamento dos que o procediam. Precenciou esta situação um agente da autoridade, que agiu de imediato. O condutor prontamente pediu desculpa, esperando a autuação. Mas para sua surpresa, foi o peão quem foi multado, perante a estupefacção dos muitos presentes e do próprio, claro, bastante surpreendido com o que lhe estava a ocorrer. Estava a ser multado por utilizar a passadeira, em que quase tinha sido atropelado. Como podia isto ser possível?»

A resposta está, obviamente no parecer juridico do Gabinete Juridico do ACP: o peão exige-se que garanta a sua segurança sem prejuízo da dos automobilistas.

Anónimo disse...

E se for um ciclista numa passadeira?!
Ontem, um ciclista quase que me "atropelou" o carro numa passadeira, e ainda ficou muito zangado.
Eu disse-lhe que as passadeiras são para os pões, é esse o simbolo que está na placa.
Mandei-o à fava, pois não estive para perder mais tempo com gente parva.
Já agora gostaria de saber o que diz o nosso código, penso que nada, pois ontem tentei descobrir na ultima edição do código de estrada e não encontrei nada que relacionasse ciclistas e passadeiras para peõe.
Obrigado.
El Juanito

Nuno Salvaterra disse...

Fui ver, um ciclista é um velocípede, não sendo um peão a não ser que esteja a pé, levando a bicicleta pela mão. A passadeira é reservada ao uso dos peões, pelo que ele estava errado. Eu na tua situação tinha-me passado com o gajo. Fizeste bem em não ligar.