29 setembro, 2007

EuroNCAP e os automóveis chineses

A EuroNCAP é a instituição de testes de segurança automóvel de referência a nível europeu. Para cada novo modelo de automóvel, é testada a segurança dos ocupantes em situações de colisão frontal e lateral. O site deles é bastante bom, permitindo consultar os resultados dos seus testes organizados por segmento automóvel. Falo da EuroNCAP neste post porque recentemente apercebi-me de uma realidade assutadora: a segurança dos automóveis chineses que vão estar à venda na União Europeia.

Um amigo meu, com o qual costumo debater vários assuntos do mundo automóvel, mostrou-me uns vídeos de crash tests de carros chineses que são assustadores. Desses, quero chamar a atenção para um em especial, realizado pela ADAC (o maior clube automóvel da Alemanha e da Europa) para a EuroNCAP. O automóvel que figura nesse vídeo é descrito pelo Testing and Technical Manager da ADAC como o pior testado por eles em mais de dez anos. Ora vejam a colisão frontal a 64km/h.



Este automóvel em especial, o JMC Landwind, uma imitação do Opel Frontera, publicitado como um SUV mais do que completo por metade do preço, começou a ser vendido este ano, mas entretanto a empresa decidiu congelar as vendas até conseguir resolver as questões de segurança.

É inaceitável que um automóvel tão inseguro quanto este esteja autorizado a ser vendido na União Europeia. Isto acontece porque a legislação é muito menos exigente do que os testes que a EuroNCAP faz. É ainda mais incompreensível esta situação, quando sabemos que a diminuição da sinistralidade rodoviária tem sido uma prioridade para a Comissão Europeia.

Digam não a estes "carrões baratuchos"!

02 setembro, 2007

Exemplar

O CDS-PP adoptou um novo método para se aproximar dos cidadãos. Agora existe uma conta no YouTube, estreada com uma comunicação do seu líder, em três partes.

Na primeira parte é abordada uma questão que me preocupa intensamente em Portugal: a da segurança. As forças de segurança deverão ter mão forte no combate ao crime, mesmo quando este é disfarçado de manifestação pública de ideais. Este exemplo, ao contrário de falta de meios ou de pessoal, mostra falta de responsabilidade no cumprimento do dever, abrindo as portas para o desrespeito pela autoridade e pelo Estado, o que é simplesmente inaceitável.

A segunda parte fala da subida das taxas de juro, um problema que sinceramente ainda não me afecta e do qual não sei muito. Acredito no entanto que deverá haver uma maior responsabilização (e não uma vitimização ou desculpabilização) das famílias que possuem créditos que não conseguem suportar.

A terceira parte reflecte sobre quatro questões, todas elas ligadas a vetos presidenciais.

A primeira destas fala sobre o veto da lei que permitia que o sigilo bancário pudesse ser levantado nos casos em que o contribuinte reclama, presumo eu, da tributação que lhe foi efectuada. Eu neste caso, ao contrário do PP (e da Constituição, aparentemente), penso que o sigilo bancário do contribuinte deverá estar menos blindado ao acesso do Estado, tendo em vista um controlo apertado da "fuga ao fisco". O direito à privacidade daquilo que faço com o meu dinheiro parece-me menor, relativamente aos danos provocados ao Estado pela insuficiente tributação causada por quem não paga o que deve; isto para não falar na injustiça para com os contribuintes que são cumpridores.

Sobre a segunda questão não tenho posse de todos os factos, mas se percebi bem, acho que discordo mais uma vez do PP, que apoia o veto presidencial. Acho que o direito que os jornalistas têm de ocultar as suas fontes é mais uma vez menor, relativamente à ocultação daqueles que quebram o segredo de justiça. Actualmente vive-se uma situação em que quem quebra o segredo de justiça não pode ser julgado porque a única pessoa que sabe, por ser jornalista, pode escolher não revelar o nome, em vez de ser considerado cúmplice. O Estado passa por parvo, mais uma vez.

A terceira questão versa sobre uma questão sobre a qual escolhi não me informar a fundo, por não me interessar. O veto é desta vez sobre a lei que alterava não sei bem quê nas categorias militares da GNR e consequentemente no Exército. Não quero saber, não me parece importante.

A quarta questão parece-me relevante. Aparentemente, o Estado não tem responsabilidade civil por erros dos serviços públicos. A lei que foi vetada iria inverter essa situação, mas aparentemente por questões relacionadas com a carga dos tribunais ou a capacidade financeira do Estado, o diploma não passou. É uma situação muito delicada, que me parece não ter uma solução aceitável. Por princípio, tal como acredito na responsabilização do cidadão e das empresas pelos seus actos, acredito na responsabilização do Estado, achando que apenas assim há verdadeira justiça social. Quando é apresentado como argumento a ineficácia dos tribunais para lidar com essa nova torrente de processos que adviriam da aprovação da lei, acho que não é desculpa suficiente, devendo ser feito um grande esforço para agilizar a tão necessária reforma da justiça. Mas quando é apontada a saúde financeira do Estado, aí tenho que ceder às evidências. Por mais justo que fosse o pagamento de milhares de indemnizações todos os anos aos cidadãos que sofreram perdas e danos na utilização de serviços públicos, isso é incomportável na situação actual. Acho que a lei poderia levar o Estado à bancarrota, o que para mim está fora das opções possíveis.

Irei estar atento aos próximos vídeos. Isto sim, é aproximar a política dos cidadãos. Muito bem, CDS-PP.

01 setembro, 2007

Em Espanha

Amigos meus sabem que digo regularmente que, se mandasse no mundo, nivelava Espanha duma ponta à outra e construía lá um parque de estacionamento. Nessas alturas costumo defender esta ideia, dizendo que dava jeito, pra quem às vezes quer ir a Vila Real de Santo António ou a Valença e não tem onde parar o carro, que assim estacionava em Espanha e depois ia a pé. Era prático.

Este sentimento algo negativo para com a nação vizinha deriva de sucessivas interacções menos felizes com alguns dos seus nativos. Há quem saiba da dificuldade que tive em me expressar em Salamanca, quando fui lá para lanchar uns simples churros, por exemplo. Mas não é para discutir os problemas linguísticos que escrevi este post.

Já me tinha dado a impressão que os espanhl médio não é grande condutor quando, no ano passado, me perdi a voltar de Sevilha. Nessa altura andei por umas nacionais m(ont)anhosas e deparei-me, carro após carro, com malta que insistia em andar sempre de máximos ligados, venham ou não venham carros no sentido contrário. Aquilo que em Portugal é uma Contra-Ordenação Muito Grave é, em Espanha, prática comum.

Este ano voltei a Espanha para passar uma semana em La Manga del Mar Menor, que fica a pouco mais de 1000 kilómetros do Porto. Conduzi bastantes horas nas autopistas e autovías espanholas, experiência que recomendo vivamente a quem ache que os portugueses conduzem mal em auto-estrada.

Imaginemos uma situação típica em auto-estrada. Alguns carros mais rápidos a irem na faixa da esquerda e outros mais lentos a irem na faixa da direita. Alguém na faixa da direita quer ir para a faixa da esquerda para ultrapassar os carros que estão à sua frente, mas vê carros na faixa da esquerda.
Comportamento do português médio: espera que haja condições que lhe permitam meter-se na faixa da esquerda sem obrigar ninguém a travar por causa dele.
Comportamento do espanhol médio: vai para a faixa da esquerda no primeiro espaço em que caiba o seu carro.

Tive que travar dezenas e dezenas de vezes por causa de situações como esta, às vezes bruscamente de 170km/h para 120km/h. Há quem defenda que eu é que estou mal, porque não posso exceder o limite de velocidade imposto, mas no que diz respeito a esta situação em particular, em caso de acidente, o código defende-me. Embora eu possa ser multado por excesso de velocidade, o código obriga os condutores a verificarem se têm condições de segurança (espaço e tempo suficientes) antes de mudarem de faixa. Assim, é o seguro dele que paga o estrago do meu carro.

Mas não só os condutores que são maus. Já não me lembrava de quão estúpido é o sistema de estações de serviço que eles têm. Cá, nas auto-estradas, uma área de serviço está sempre localizada junto à auto-estrada em que se circula, tendo apenas acesso de e para essa mesma auto-estrada. Para além disso, para além de posto de abastecimento, aparelho para verificação da pressão dos pneus, casas de banho, loja de conveniência, café tem por vezes oficina ou restaurante; em alguns casos, se bem que raros, até tem um motel. Em Espanha a realidade é bem diferente. Aquilo que lá se chama vía de servicio é muitas vezes apenas um posto de abastecimento rasca (nem sempre com casas de banho públicas) que tanto pode estar localizado ao lado da auto-estrada como na vila que se encontra a 5km. Isto apenas não acontece nas auto-estradas em que efectivamente se paga portagem, em que aí as áreas de serviço são normais. Feliz ou infelizmente, as portagens em Espanha não são muito comuns.

Pelo lado positivo, o gasóleo é em média a €0,96/l (menos €0,8/l que cá) e a gasolina de 95 octanas é em média a €1,05/l (menos €0,25/l que cá).

Que cães. Era de se fazer o tal parque de estacionamento.

Nota de rodapé: os comentários passíveis de serem lidos como xenofobia, extremismo ou violência não devem ser levados demasiado a sério. Só um bocadinho. Mas não muito.

Segunda nota de rodapé: eu não sou do PNR. Não, não sou mesmo. Aliás, era um partido para ir à vida, esse. E já agora o PND também. Abaixo o euro-cepticismo.